sábado, 20 de fevereiro de 2010

Má o meno!!!


A vida não lhe havia sido fácil até então. E as especulações a respeito de sua existência? Eram incontáveis perguntas que lhe assombravam a mente e que mais o assustavam quando se punha a correr deseperadamente, na linha da imaginação, à cata de ao menos uma resposta para cada uma delas. Havia adquirido o hábito de falar as coisas pela metade, o que não se sabe se foi por mitidez ou ignorância mesmo. Seu raciocínio lento, quase sempre ilógico ao analisar situações vividas ou experimentadas, o levou a constatar que os extremos não servem para muita coisa, além de colocar as pessoas num oposto, a ponto de poderem olhar a vida de um canto apenas. Talvez nisso tivesse mesmo razão, pois já dizia o sábio Aristóteles que "a virtude está no meio e que tudo o que pende para a falta ou o excesso de alguma coisa é vício", e Francisco, ou "Chico", como era carinhosamente chamado, levou essa constatação a todas (note o leitor, quis mesmo dizer todas)as possíveis e impossíveis situações da vida. E como tinha o hábito de falar pela metade, criou por si mesmo a afirmação "má o meno" (ou seja,mais ou menos) para tudo. E era feliz; afinal,juntara o hábito com uma constatação inegavelmente sua. Note o leitor que a ideia de mais ou menos expõe a impressão de meio termo, o que leva a constatar o equilíbrio.
-Como está a esposa?
-Má o meno!
-Já ganhou o neném?
-Má o meno!
-Como mais ou menos? Ou ganhou ou não ganhou...
E a conversa prosseguia.
-O senhor vai completar dez filhos, seu Chico?
-Má o meno!
-Não entendo.Como mais ou menos?
-Ara pode sê que nasça gêmeo, aí é onze...
Certa vez, Chico precisou se internar. Quando saiu do hospital, dez dias depois, os vizinhos quiseram saber:
-E aí Chico? Melhorou?
-Má o meno!
-Sua esposa disse que estava com uma infecção muito forte. É verdade?
-Má o meno!
-Também numa dessa o senhor bate as botas?
-Má o meno!
-Pense só! já está a fazer setenta anos né?
-Má o meno!
Era sempre a mesma resposta, o que pode levar o leitor a pensar ser Chico um verdadeiro imbecil. Quando completou setenta e cinco anos, Chico sumiu. Nem seus próprios filhos sabiam de seu paradeiro e a conversa que girava nas rodas era a de que ele decidira dar um rumo "má o meno" na sua vida. Passado alguns meses de seu sumiço, ele reapareceu ao convívio familiar e viveu com os seus mais alguns anos.
No entanto, a finitude da existência não admite o meio termo e Chico morreu. Depois de seu velório e sepultamento, o boato que passou a correr na pequena e pacata cidade era de que,como Chico acreditava, ele também morrera mais ou menos.Há até quem jure de pé junto que, quando faz alguma pergunta, sempre ouve ao pé do ouvido a seguinte resposta:
-Má o meno!

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KKKKKK...essas discussões prometem...por favor comentem!!!