sábado, 7 de março de 2009

"Finito enquanto se vive...Eterno depois que se morre!"


"No leito, antes do amor conjugal, repousa agora um cadáver".

Jaz ali.Fria.Os lábios tão ardentes em tantas vezes a reclamar um beijo apaixonado, agora estão incólumes e gélidos.Aqueles olhos de esmeralda a esbanjar simpatia formando par com o largo sorriso de dentes alvos, agora estão semicerrados. Opacos. Aquelas mãos tão bem cuidadas que tanto souberam acarinhar agora estão imóveis. Já não circula mais sangue por ali a torná-las quentes, por isso tudo é muito frio. Aquele corpo bem torneado, de boas medidas, motivo de ostentação de todo um ego, de toda uma vida, agora descansa frio sob a camisola de seda com a qual costumava dormir. O próprio ambiente tem uma penumbra estranha, mal iluminado por um pequeno abajour de cabeceira. É, Helena morreu. Sua voz não mais será ouvida; sua alegria jamais sentida; seu amor jamais partilhado. Tanto amou Helena que, muitas vezes, nos seus exageros afirmava que o amor "é finito enquanto se vive e só tem chance se ser eterno depois que se morre". Por isso se fazia necessário amar intensamente a finitude do amor. Sua própria vida falava por suas palavras. Casara-se por sete vezes e o homem com o qual estivera até agora não era seu marido, a não ser um amante. Nunca se arrependera do que fez. Acreditava que, se o casamento se acabava, era porque o amor chegara a seu fim. Não o amor em seu sentido ou existência universal, mas o amor construído dentro de um relacionamento mais íntimo. Também nunca chorara por uma separação, pois sabia que era a vida a lhe oferecer nova oportunidade de ser feliz, de experimentar um outro tipo de amor com uma pessoa diferente. A única lágrima chorada por Helena,saíram de seus olhos momentos antes de seu fim, porque compreendera que a vida não lhe daria mais a chance de ser feliz, de fazer novas experiências. Foi somente por isso que chorou. Helena não tinha medo da morte.
Seu amante, sentado na cadeira, tendo as costas presas ao espaldar a observava nos seus instantes finais de um mal súbito, de uma morte sem explicação e foi ele quem estancou a única lágrima de Helena com um lenço de papel, para depois apertar esse mesmo lenço contra o peito. Seria agora sua relíquia. Sua lembrança. Como Helena, acreditava que o amor era finito enquanto se vive e ele bem sabia que voltaria a amar outras mulheres. E mais, as amaria intensamente, de maneira louca. Única. E seria taxado de louco, como é louca a vida de quem ama, nem que seja por um breve período de tempo.
Helena, depois de ultrapassado o limiar sutil que a morte impõe para um outro tipo de vida, se comoveu ao notar tanta dedicação, um gesto tão nobre e ao mesmo tempo, cavalheiro de um simples amante, quando este lhe enxugou a única lágrima. Percebeu que continuava a amá-lo, apesar da impossibilidade de tocá-lo, beijá-lo e sorriu. Seu amante também sorria e parecia sorrir para ou com ela. Na linguagem muda do olhar, ela afirmou: "Este amor que lhe tive e que ainda lhe tenho vou guardá-lo para a eternidade". Ao contrário, seu amante ao sorrir, raciocinou: "Foi bom enquanto durou. Descanse em paz Helena, mas existem outras Helenas que por mim esperam".
Helena seguiu então, o rastro de luz, conservando no coração o amor que guardara para a eternidade. Seu amante porém, levantou-se da cadeira para tomar providências com a autópsia, velório e sepultamento.

Um comentário:

  1. Olha só kra muito interessante esse blog pq ele expressa com veracidade...muito bom eu recomendo

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KKKKKK...essas discussões prometem...por favor comentem!!!